segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Arruaceiro

É verdade, sim, sinhô, seu moço. Eu fui muito ruacêro mesmo na minha juventude, o sinhô nem imagina. Mas sempre fui dereito, sim, sinhô. Era eu e meu cumpade Secundino os mais ruacêro daqui. Todo dia nós fazia arte com o povo, só de arrelia, pa deixá o povo nelvoso.

O povo ia pa quermesse pa mó de dá dinhêro po padre, nós ia pa mexê com as moça, mai num era quarqué moça, não, só com as que tinha namorado, só pa mó de vê o cabra ficá sortano fogo pelas venta. Daí quando ele vinha tomá sastifação, nós abraçava ele, dizia que era brincadêra e terminava ficano amigo, até tomava pinga junto pa comemorá.

O Secundino casô premero que eu. Ficou engraçado com a cumade Eleutéra e quetô. Eu fiquei sem amigo das pândega, mai continuamo amigo. Pu sinhô vê como eu sô dereito e num gosto de malaquiage, o cumpade Secundino mandô a fia mais véia dele estudá na capitá. Só que ela num estudava nem nada, ela virô rapariga, meu fio Quedinho que descobriu. E meu cumpadi Secundino todo babão da fia que tava fazeno escola de dentista em Salvadô. Era dotôra Valdicéia pa cá, dotôra Valdicéia pa lá, até que um dia encontrei o cumpade Secundino no correio, ele ia mandá dinhêro pa ela comprar os negoço de dotôra lá dela. Todo mês ele vendia uma vaquinha pa mó de mandá dinhêro pa fia rapariga lá dele. Eu sô dereito e num gosto de malaquiage. Contei po Secundino que a fia dele num estudava pa dotôra nem nada, era rapariga de dez conto. Ele nunca mais mandô dinhêro pa ela e nem inscreve mais carta.Isso dexô o Secundino véio. Ele tem o mesmo tanto de ano que eu, mai tá muito mais véio.

Eu num gosto de véio. Véio tem umas mania besta. Pur exempro, o sinhô é meu fio? Não, o sinhô num é meu fio. Num sei nem quem é sua mãe, como é que o sinhô é meu fio? Se bem que uns minino estudado me disse que os cientista inventaro um jeito de tê fio sem fazê indecença com a muié. Um tal de bebê de vrido. Tem ôtro nome, mai só lembro lá desse negoço de bebê de vrido. E as minhas coisa lá é garrafa pa eu fazê bebê de vrido? Deus me deu minhas coisa pa mijá e pa fazê fio em muié, não em garrafa de vrido.

Apoios intão, véio tem mania de chamá todo moço mais novo de fio. Meus fio são o Quedinho, a Maluza, o Zequeu, a Diocéia, a Varmira e o Zabuco. Eu tenho ôtro fio, mai num é bem meu fio. Tinha uns tempo que toda vez que eu quiria fazê indecença minha muié Feliça inventava uns calô instranho. Num era calô nada, acho que ela tava ficano véia tomém e num quiria mais brincá, perdeu o gosto. Aí eu fui lá na casa das minina e terminei emprenhano a Saldiva, uma rapariga de lá. O minino é mais fio dela que meu. Fio de rapariga, o sinhô sabe. Hoje ele é vereadô. Fio de rapariga nunca faz nada dereito, taí o Quinzinho, virou político. Coisa de fio de rapariga. Num dá pra nada certo...

A Feliça, dispois que a Saldiva emprenhô, remoçô. Passô os calô lá dela e hoje ela gosta de fazê indecença de novo. O bom é que num pode mais imprenhá.

É bom tê fio, mai na nossa idade, imagina se nós tivesse minino agora... Quando ele compretasse dez ano num ia mais tê pai pa brincá com ele, como é que eu ia jogá bola com ele, insiná ele a muntá no potro, insiná ele a caçá preá? Mió num tê mais fio, Deus sabe o que faz.

Véio é bicho besta. O sinhô conheceu o dotô Belizaro, conheceu? Conheceu não? Num conheceu? Apois precisa de vê. O dotô Belizaro é véio, mais véio que eu. Vixe! Muito mais véio. Ele é véio, mai num sabe que é véio, pensa que é moço jovem. O sinhô já ficô muito tempo drento d’água até ficá com os dedo engiado? Já fico? Intão o sinhô pode imaginá a cara do dotô Belizaro. É mais engiada que os dedo da gente quando a gente toma banho demorado no rio, mai num é que ele deu de pintá os cabelo pretim, pretim? Todo mundo vê pela cara que ele é véio, mai o cabelo é mais preto que asa de anu. Num é isquisito isso? Coisa de velho abestalhado, só pode, né, não?

Eu fui ruacêro, mai hoje tô veio e queto, a idade tem dessas coisa...

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