segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Avenida Paulista

A de verde vai ao banco o de azul vem do dentista atropelo de gente rapazes tão jovens recém-saídos dos cueiros universitários já fantasiados de homens sérios em seus indefectíveis ternos negros indo e vindo calçadas largas acima e abaixo em casa as mães choram pelos filhos que foram à guerra das grandes corporações tatuagens da moda espalhadas das testas aos calcanhares e cabelos milimetricamente desarrumados para darem aparência de desleixo ricos de produtos químicos caros e com as marcas dos dedos dos cabeleireiros caros hippies de Mercedes é tão bom ser irresponsável e underground quando se tem em casa um pai morrendo do coração e de estresse para pagar as faturas dos cartões de crédito das farras do filho artista incompreendido gente de isopor e cérebro ainda mais leve rebeldinhos do Dante Alighieri e outras academias tais tanto faz de conta tanta fantasia mal dissimulada caras e consciências maquiladas nos salões refrigerados todos tão iguais em seus esforços de se fazerem únicos o casal homo masculino em seus jeans apertados e camisetas idem o casal homo feminino com seus penteados espetados de longas suíças e os poucos casais hétero a homossexualidade é moda e rebeldes ou medrosos são os que não aderem mentes que mentem e negam o óbvio cinemas cult livrarias abarrotadas quanta cultura quanto lixo cultural que se perde no comportamento de quem o ingere na obrigação de se mostrar culto para os amigos que foram à Europa e a Porto Seguro destinos obrigatórios para as festas inacabadas que deixam histórias a serem contadas como troféus sotaques e gostos expostos nas suas vitrines pessoais como fazem eu me arrepender de um dia ter querido atravessar o Atlântico não vejo marcas culturais profundas nos que voltam apenas cicatrizes leves a serem exibidas e mal ouvidas pelos interlocutores pobrezas de espírito atravesso as pistas mas o universo é o mesmo de feições fechadas medo absoluto de quem anda ao lado desprezo por quem anda ao lado nojo do mendigo que mendiga ao lado sob as calçadas os trens renovam as caras que entram e saem dos buracos mas mantém as características a mesma feiúra artificial de gente fabricada em série modelos de diferentes jogos emos hippies mendigos peruas drogados executivos metrossexuais clubbers intelectuais intelectualóides alienados modernos engajados sem graça eco-xiitas de apartamento e carro do ano os mesmo tipos repetidos à exaustão sob a sombra dos arranha-céus.

Um comentário:

  1. Dói ler e ver que vc viu e faz ver tudo isso.
    Gostei da experimentação na prosa estilo linguagem falada. Não é pra qualquer um todo esse fôlego. Vc é genial Muito talento aqui

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