segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

De Braço Dado Com a Noite - Parte 3

Estava entregue à matilha.

Morderam, chuparam, lambuzaram, comeram e recomeram. Alternavam-se nas funções enquanto sua única função era ser passiva e obedecer Às ordens, nunca amáveis. Morde aqui, chupa ali, abre mais, fecha, vira, de ponta cabeça, esfrega, alisa, geme, grita, xinga...

Com aluguel a pagar, conta na boutique a saldar, telefone em vias de ser cortado e sem ele o trabalho sumiria, Adalgiza Bright, codinome criado inspirado na miss Brasil misturado com um cintilante inglês, sujeitava-se.

Rijos por conta da overdose de excitantes químicos, os algozes só descansaram por falta de preparo físico, facilmente denunciada pelas barrigas salientes e flácidas.

Aliviada, Adalgiza preparou-se pra abandonar sua masmorra. Tentou se levantar do carpete surrado onde havia sido abandonada como um animal surrados, mas foi impedida pela para grossa e cabeluda que a empurrou de volta ao chão.

- Calma aí, piranha. Isso é apenas nosso recreio. Te arrasta até ele.

O “ele” ao qual o outro indicava era o mastodonte dos três, sujeito enorme com barba cerrada que deixara marcas na pele fina de Adalgiza. “Ele” estava ajoelhado com um pires na mão. Dentro do pires um pó branco que ela sempre evitara provar, mas que sabia bem do que se tratava.

Tentou não ir, não se sujeitaria àquilo, mas o pontapé nas suas costelas demoveu-a do intento de rebelar-se. Naquele pardieiro fantasiado de hotel três estrelas, sabia que seus gritos por socorro não seriam atendidos. Arrastava-se devagar, pesando o que seria pior, levar uma surra pela desobediência ou correr o risco de perder a consciência depois de provar a droga.

Não chegara a uma conclusão quando viu-se puxada pelos cabelos e o rosto enfiado no pires.

- Cafunga! Cafunga, vaca! Limpa o pires!


*Esta é minha parte num conto coletivo com mais três escritores.

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