segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Eunápolis, 13 de junho de 1967

Querido Oscar, meu caro amigo,

Me desculpe não ter ido ao almoço de confraternização, culpa do imprevisto. Meu carro amanheceu com os quatro pneus cortados. Desconfio que foi obra do Zenóbio, meu vizinho, só porque quebrei suas telhas coloniais quando jogava bola no quintal como o Marcos Júnior. Seria tão difícil ele entender que não paguei seu prejuízo porque estou completamente sem grana?

A internação da dona Ofélia me custou uma fortuna! Tudo por causa da prepotência daquele juiz insensível. Tudo bem que fui eu quem esbarrou com ela no alto da escada. Tudo bem que não pude me conter e caí na gargalhada ao vê-la despencando escada abaixo com as pernas para cima. Mas se eles se colocassem em meu lugar veriam que o esbarrão foi casual e a gargalhada foi inevitável. Mas, não, o sem coração me fez pagar uma dinheirama de custas do processo, outra fortuna de hospital e uma terceira fortuna por danos morais e, se não pagasse, iria em cana.

Você, como bom e velho amigo, bem sabe que não posso ser preso de novo graças à Zenélia, aquela vaca.

Eu não podia pagar a pensão, droga! Foram só seis meses de atraso... Meu pai bem me dizia que ex-mulher é pior que cascavel em baixo do travesseiro. Expliquei a ela mil vezes que não estava em condições de pagar. A corretora de seguros não acreditou no incêndio da loja. Me dei mal. A perícia provou que o fogo não foi causado por acidente, daí fiquei sem ganha-pão, com dívidas por todos os lados, respondendo a cinco processos e a desgraçada da Zenélia não me deu uma chance. O filho de uma égua do perito também bem que poderia ter aceitado o dinheirinho que ofereci, só que o sem-mãe ainda me dedurou ao juiz.

Espero que entenda os motivos da minha ausência, mas pretendo ir ao próximo, caso o mundo não cometa mais uma injustiça comigo.

Do sempre seu fiel amigo,

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