segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A Carta

Queridos papai e mamãe,



O Sandroberto de Didinha esteve por aqui no último final de semana e acho que ele entendeu tudo errado e tenho medo que conte coisas pra vocês o que não correspondem à realidade.



Na sexta-feira à noite nos encontramos em uma boate, mas não é nenhum prostíbulo de luxo, como parece que ele achou que fosse. Nós, as meninas, não estávamos em roupas sumárias porque fazíamos programa, apenas estávamos fantasiadas para comemorarmos a despedida de solteira da Floriana, nossa colega de faculdade, e o dinheiro que os rapazes nos davam não era nenhum pagamento, mas, sim, a parte que lhes cabia nas despesas da festa, coisa que havíamos combinado na véspera e também sua cota para o presente dos noivos.



Ele me viu ir embora com um senhor muito bonito e grisalho, mas, lhes garanto, que não era nenhum cliente. Aquele senhor é meu professor, gente muito boa que gosta de estar com os jovens, ele próprio tem espírito jovem. Vocês sabem que não gosto muito de festas, por isso já me encontrava incomodada naquele ambiente e ele, muito solícito, se ofereceu para me levar em casa.O Sandroberto, intrometido, nos seguiu e nos viu entrar em um prédio nos Jardins. Eu posso explicar. Depois que saímos da boate tive uma queda abrupta de pressão e o professor Eberval, que também é médico, me levou ao seu apartamento onde usou o tensiômetro em mim e me medicou. O remédio que ele me deu fez-me ficar mole e com sono, sem condições de ir pra república. Como é um cavalheiro, o professor me ofereceu uma cama em seu quarto de hóspede. Só tenho que agradecer por sua boa vontade.



No sábado à tarde o Sandroberto, depois de pedir meu endereço a uma das minhas colegas que se encontrava na boate, para onde ele voltou depois de nos ver entrar no prédio do professor, encontrou-se em um apartamento em Higienópolis. Quem dera eu morasse ali... Como vocês sabem, eu ainda moro no alojamento da faculdade. Aquele apartamento é de uma colega, cujo pai é muito rico, dono de uma empresa de ônibus. Eu estava ali porque havíamos combinado, eu e a Anderléia, de estudarmos para a prova que teríamos na segunda-feira.



Eu sei que o Sandroberto vai dizer que conseguiu o endereço subornando um segurança da boate, mas é mentira. Ele é capaz de inventar essa história para criar uma versão mais crível para vocês. Na verdade, ele deu em cima de mim e ficou chateado quando cortei suas intenções, coisa de homem inseguro. Eu estou aqui para estudar e conseguir meu diploma, não tenho tempo para envolvimentos amorosos, ainda mais com um analfabeto como o Sandroberto.



Ele vai dizer que minhas roupas são de grife e que tenho um carro importado na garagem. É tudo parte de uma enorme mentira. Minhas roupas são apenas bonitinhas e as poucas grifes foram presentes de aniversário que minhas amigas deram, e o carro importado que ele viu é do síndico do prédio da Anderléia. Como eu disse, moro no alojamento da faculdade e lá nem tem garagem.



Por favor, acreditem em mim e não no mentiroso do Sandroberto. Ele é um despeitado e fofoqueiro.



Preciso ir, tens uns rapazes me esperando para estudarmos anatomia, os exames estão chegando. Noutra hora escrevo com mais tempo.



Amo vocês para sempre.



Beijos eternos de sua filha Cordelina.

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