segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Passado é Coisa do Passado

- Amor, olha essa foto.
- Onde foi isso?
- Não lembra?
- Não.
- Amor! Foi naquela excursão à serra gaúcha!
- Ah... Quando foi isso?
- Não acredito! Tá tirando com minha cara?
- Que é isso, meu bem? Eu não lembro, só isso.
- Nosso primeiro ano de casamento, Astrogildo. Como pode esquecer isso?
- Se estamos no sétimo, é lógico que tivemos o primeiro, mas também tivemos mais seis. E foram muito bons, não foram?
- Vai me dizer que não se lembra disso também...
- Ora, amor...
- Lembra onde comemoramos o segundo?
- Fortaleza?
- Fortaleza? Esse foi o quarto!
- Chapada Diamantina.
- Nunca fomos à Chapada Diamantina! Tá louco?
- Ih! Então, não lembro.
- Manaus, Astrogildo! Manaus!
- Ah, foi...
- Vai dizer que não lembra...
- Lembro de um calor de sauna e muita água.
- E fomos com quem?
- Com o Clodoaldo?
- Clodoaldo? Que mané Clodoaldo?
- Ah, é! Não te apresentei o Clodoaldo.
- Quem é Clodoaldo?
- Quem é Clodoaldo?
- Sei lá! Você que falou nesse tal Clodoaldo.
- Quem é Clodoaldo?
- Você tá bêbado, Astrogildo? Quem é Clodoaldo?
- Sabedeus. Não conheço nenhum Clodoaldo, Suméria.
- E como é que você perguntou se fomos a Manaus com o Clodoaldo?
- Chutei, ué.
- Eu tô casada há sete anos com um maluco e não sabia.
- Com quem fomos a Manaus em nosso terceiro aniversário?
- Segundo!
- Segundo? Quem é segundo?
- Segundo aniversário, desgraçado!
- O que tem o segundo aniversário?
- Nós fomos a Manaus com o Clécio e a Vilda em nosso segundo aniversário de casamento, seu beócio.
- Ah, foi!
- “Ah, foi!”, “ah!, foi”... Você não lembra, confessa.
- Não lembro mesmo.
- Como é que você não lembra coisas tão importantes que nos aconteceram, seu maldito?
- Porque eu penso nos muitos anos que ainda vamos viver felizes. Porque vejo nosso amor em perspectiva e não em retrospectiva.
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7 comentários:

  1. Vi agradecer sua vizita e adorei seu cantinho!
    Um bjo enorme tenha uma linda semana!!

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  2. Ei Marcos! Comecei gostando muito do diálogo, mas depois fui achando que você esticou demais, achei sem sentido os ruídos dos dois, sem o apelo necessário. Mas valeu o final, a última linha, que contém um ensinamento importante pra casais em geral (apesar de destoar um pouco do clima de humor e saltar para uma frase de efeito de livro de sabedoria).

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  3. achei que ele se saiu muito bem no final e fez ela pensar em planejar os próximos passeios, pra ser inesquecível, sabe...
    achei divertido e atual. ao contrário dele meu marido tem boa memória eu é que me perco com datas. mas o mais importante é estar juntos e felizes hoje e não (só) no passado. Rose

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  4. Pois eu adoro essa frase última. Como sempre, sua literatura é leve e marcada por trechos poéticos. Vc sabe contar histórias com graça e sempre demonstra nelas sua capacidade de olhar (no sentido pleno) para os outros. Vc é um gende observador de pessoas e da vida. Tem estilo. Grande estilo.
    Parabéns, Marcos. quanto mais eu leio, mais eu gosto. De verdade.

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  5. Muito bacana, cheio de humor e criatividade, tem muitos casais que se encaixam perfeitamente hein! a depender dos olhos de quêm lê, é uma grande reflexão sobre a forma de vida, em como escolhemos fazer nossas marcas nesse mundo ás vezes tão especial para uns e insignificante para outros.
    Parabéns pelo texto.
    abraços

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  6. Marcos.
    Excelente e divertido conto.
    Tá se vendo que muitas mulheres implicam e complicam. Com todo futuro pela frente
    ficar lembrando o passado é um retrocesso.
    bjs
    Doroni

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